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Meu Filho Fez Sua Última Mágica feature
2023.09.13

Meu Filho Fez Sua Última Mágica

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Faz um mês que meu cachorro caçula, Mago Merlin Harigaya Massa, meu Maguinho, morreu. Mesmo sendo “apenas” um cão, eu o amava e travava como um filho. Dormia comigo, sentava à mesa nas refeições.

Tento escrever pela décima vez, enquanto choro copiosamente. Este texto não vai conseguir precisar nem parte do quanto ele era especial.

OBS: Os meus cachorros têm um perfil no Instagram: https://www.instagram.com/avalondogs/

Origem

Conhecemos ele na rua, 1 mês após comprar minha primeira casa, em Uberaba. Era ainda novinho e bem sujo de terra. Ele brincou com meus dois cachorros, Rei Arthur e Princesa Guinevere, enquanto passeamos no quarteirão. Deixei os três se cheirar e curtir. Continuando o passeio, ele voltou para a esquina que estava. Achei lindo.

As pessoas do bairro e da rua estavam cuidando dele: davam sempre prato de comida e água.

No dia seguinte. O mesmo. Eu e Ana Luisa, minha esposa, ficamos encantados e começamos a fazer brincadeiras como “até quando iríamos resistir a tamanha fofura?”. A tarde, caiu uma chuva e fiquei com tanta dó que fui conferir se ele estava bem. E estava. Ficou numa marquise tranquilão enquanto a chuva passava.

No terceiro dia, segunda-feira, após brincar com os meus dois quando passamos perto, ele foi nos seguindo, tranquilão, pelo resto do passeio. Foi; e foi; e foi. Quando cheguei e abri a porta de casa, -não vou esquecer- ele entrou, sentou e me disse “chegamos em casa, papai”! Merlin quem me adotou. Sou eternamente grato.

Sua primeira foto
Sua primeira foto

Merlin me adotou
Mago Merlin Me Adotou

Pessoa

Escolhemos um nome seguindo a “tradição” das histórias de Avalon: Mago Merlin. Como foi o primeiro adotado após casado, seu nome completo ficou Mago Merlin Harigaya Massa. Veio ainda novinho, o veterinário deu uns 4 meses, não mais que 6. Tinha perninhas muito curtas, por isso era sempre gozado como “errinho de projeto”, “mentirinha” (mentira tem perna curta) ou “rinoceronte” (corria e trombava em todos).

Conheço diversos cães e afirmo que ele era especial. Muito mais inteligente e ativo que a média. Quase um border collie. Uma esponja de conhecimento. Imitou seus irmãos em tudo. Em menos de 2 meses já sabia praticamente todos os truques que demorei anos para ensinar aos outros. Dava patinha, rolava, ficava de pé e rodava e diversos outros truques.

A comida era seu trauma. Sempre comeu desesperado e tinha sentimentos possessivos com comida e ossinhos. Se algum irmão deixava comida no pratinho, ele comia. E já ia direto para o castigo, safado (“Já sei, já sei…”). Trabalhamos nisso e nestes 2 anos de vida ele melhorou muito.

Tinha um hábito que eu achava lindo: ele virava a cabecinha para ouvir melhor o que dizíamos. Depois para o outro lado. Era um charme. Além de uma orelha que, como o rabo, claramente respondia a seu estado de espírito: levantava a anteninha quando estava curioso, abaixava quando estava cansado ou triste.

Adorava brincar. Quando descobriu a caixa de brinquedos ele adorou. Brincava sozinho até. Jogava as bolinhas longe e ia buscar. Gostava de brinquedos de cabo-de-guerra como a irmã e também de bolinha como o irmão. Era uma máquina de energia. Nos passeios, corria sem parar. Sem parar e sem cansar. Me acompanhava super feliz nos meus treinos de corrida. Eu corria 5 km, ele corria 10 de tanto ir e voltar.

Família

Rei Arthur sentiu a chegada de outro macho e tinha algumas disputas naturais. Além disso, Arthur é fã do sossego e Merlin queria brincar o dia inteiro. Quando estava no pique para brincar, ambos corriam juntos.

Guinevere o adotou meio como irmão, meio como filho. Saia em defesa dele em qualquer evento na rua, brincava com ele de lutinha e tirava suas remelas. Quando ele ficava de castigo, fechado no banheiro por alguns minutos, ela ficava na porta de prontidão e preocupação. Ela ainda o procura quando mencionamos o nome de Merlin. Ela o amava profundamente.

Ele aprendeu, imitando sua irmã, a ficar muito carinhoso. Vinha dormir abraçado na cama, deitava encostando o bumbum na gente no sofá, pedia carinho, cutucava quando parávamos. A família e amigos sempre assustavam um pouco no começo pela agitação e meia hora depois virava o queridinho.

Tirei fotos dele mais que qualquer outro animal ou pessoa nestes 2 anos porque ele sempre tinha algo incrivelmente engraçado ou interessante.

O Dia

Um passeio rotineiro de segunda-feira, começando a semana. Fomos ao parque, soltei a coleira e deixei eles correrem. Como qualquer dia. Na volta, após gastar a ansiedade guardada, eles costumam voltar sem coleira. Pois com o treino, eles sempre andam próximos de mim. Hábito que reforço todos os dias. Só de contar “3, 2, 1…” eles entendem que tem de prestar atenção em mim e ficar próximos.

Mas neste dia ele viu outro cachorrinho de rua, ficou super animado em brincar e partiu para conhecê-lo. Tentou atravessar a rua, mas não viu o carro, que até estava em baixa velocidade. Foi tudo muito rápido.

Partiu fazendo o que mais gostava: brincando, correndo e fazendo amigos.


Tenho certeza que demos uma excelente vida para ele. Menino do interior, ele conheceu a praia e floresta, viajou para uma dezena de cidades. Comeu, brincou e dormiu muito. Dormia de exaustão pelo dia sempre cheio. Acordava na pilha para começar tudo de novo. Teve pais e irmãos, amor e lar.

Um mês de luto. Luto como eu não senti. Já tive cachorros antes e que eventualmente morreram. Mesmo mais jovem, senti, sim, a tristeza. Mas nada se compara a agora. Mago Merlin foi provavelmente minha maior perda na vida. Talvez porque eu agora eu me sentia realmente um pai.

Não teve um só dia que você não me fez sorrir. Te amo filho.

★ 2021-XX-XX (adotado 2021-12-13)

✝ 2023-08-14

Sua última foto. na véspera.
Sua última foto. Na véspera.

Bruno MASSA